PABLO PICASSO
Pablo Picasso foi um “multi” artista, foi pintor, escultor, ceramista, dramaturgo, poeta e cenógrafo. Nasceu na Espanha em 25 de outubro de 1.881 e morreu em 8 de abril de 1.973, aos 91 anos, na França. Desde criança teve contato com a arte, já que seu pai era pintor, porém os desenhos do pai nem se comparavam com os do começo da carreira do filho.
Desde suas primeiras obras já se previa que Pablo teria um futuro muito promissor na arte, sua genialidade artística era notória desde criança.
Já sabemos que arte é uma forma de expressão, vamos analisar então dois momentos da vida de Picasso e maneira como ele se expressou através de suas pinturas.
CIÊNCIA E CARIDADE – Obra de Pablo Picasso
Pablo Picasso pintou esta obra “Ciência e Caridade” em 1.897, aos 16 anos de idade. É genial o que um garoto de 16 anos conseguiu reproduzir, as pinceladas, o jogo de luz e sombra, os detalhes da coberta que cobre a paciente, a precisão dos traços da figura humana.
Mas para além de toda técnica de Picasso para reproduzir uma obra tão incrível há também a sensibilidade por parte do autor, seu quadro expressa uma comoção muito grande, quem o observa consegue sentir isso, é triste ver a criança que logo não terá mais o amor materno, crescerá neste mundo sem mãe. Assim também como é triste ver o olhar da mãe para a criança, sabendo que logo deixará este mundo, a mãe está com uma expressão de tristeza, melancolia, que foram muito bem retratadas pelo artista.
A figura da freira representa a espiritualidade e também a humanização da obra, ela está oferecendo possivelmente um chá para doente e muito provavelmente daria conforto à família prestes a ficar enlutada.
Acredita-se que quem pousou para Picasso desenhar a figura do médico foi o próprio pai do artista. Na minha opinião a pessoa que tem os traços humanos mais perfeitamente retratados na obra é o médico, as linha de expressão do seu rosto são bem reais, assim como suas mãos que foram perfeitamente retratadas pelo artista.
A genialidade do artista é vista em cada detalhe da obra, a perfeição dos traços dos adornos que compõem o objeto acima da cabeceira da cama, ele também passa a leve ideia de que está desenhado em perspectiva. A vitalidade da cor e traços das mãos do médico contrastam com as da paciente, as dela estão mais escuras e bem esticadas, desfalecidas, denotando a falta de força da paciente que está prestes a partir.
Há quem diga que Picasso foi orientado pelo pai para pintar este quadro, no entanto, mesmo que tivesse tido orientação, ele foi incrível ao retratar todos os detalhes tão precisamente. Por mais leigo que seja o observador ninguém precisa explicar a ele o que está acontecendo, é visível que há uma pessoa em seu leito de morte, esta pessoa é uma mãe que deixará um bebê para ser criado por outros. A comoção dessa situação está muito bem retratada pelo artista, e o mais incrível: um artista que fez tudo isso com apenas 16 anos de idade.
Pablo Picasso tinha uma ideia na cabeça, uma situação que ele queria retratar, uma mensagem que gostaria de passar, e você vê isso através desta bela obra, com perfeição das formas, cores, deixando-a bem realista. Porém, com o tempo, ele foi mudando sua maneira de se expressar, de transmitir sua mensagem, vejamos o quadro “Guernica”.
GUERNICA – Obra de Pablo Picasso
Esta obra foi pintada pelo artista quando ele tinha 56 anos de idade, em 1.937. Ela retrata o bombardeio na cidade espanhola Guernica, que passava por uma guerra civil.
Esta é uma das primeiras obras de Picasso que tive contato, pelo menos foi a que mais me marcou, pois por muitos anos sempre que pensava em Picasso era essa imagem que me vinha à mente. Eu a vi pela primeira vez no ensino fundamental, acho que na 7° ou 8° série, e fiquei muito chocada, primeiro porque tinha um pensamento de que artistas eram pessoas que produziam obras realistas, para mim este era o conceito de belo; segundo porque as figuras retratadas na obra são chocantes, transmitem um sentimento de inquietação, de desespero.
O quadro é muito emblemático, medindo 3,49 metros de altura por 7,76 metros de comprimento essa obra gigantesca faz uma importante crítica ao regime facista europeu. Tudo ali foi colocado de forma intencional, até mesmo as cores utilizadas tinham um propósito.
Antes de analisarmos a obra vamos entender o contexto histórico que pautava a sociedade naquele momento. A Espanha estava vivendo um conflito interno entre forças republicanas e nacionalistas. Os nacionalistas tinham o apoio do exército nazista; estes precisavam testar suas novas armas e táticas de guerra; como Guernica abrigou tropas inimigas do ditador espanhol o ditador permitiu que o exército nazista testasse suas armas na cidade. A consequência disso foi a morte de 1.660 pessoas e 890 feridas.
No momento da guerra Pablo Picasso estava morando na França, trabalhando em uma obra a pedido do governo republicano espanhol. Ele ficou sabendo da guerra através de fotos e notícias dos jornais. Ele abandonou a ideia inicial da obra que criaria e resolveu fazer algo que protestasse contra a barbaridade que estava acontecendo na Espanha, com isso nasceu “Guernica”.
Para as cores ele resolveu usar uma paleta monocromática com tons de branco, cinza, preto e um pouco de azul. Essas tonalidades ajudaram em sua intenção de retratar a melancolia, dor e sofrimento que a guerra estava causando, intensificando o drama que as pessoas estavam vivendo com o bombardeio.
Outro fator importante quanto à cor é que as imagens que retratavam a guerra eram em preto e branco, e era assim que Picasso e todos tinham uma visão da guerra, em preto e branco, então a escolhas dessas cores reforçavam a realidade que eles viviam.
Todas as figuras retratadas na obra trazem uma imagem de dor e desespero. Vejamos:
MORTE DO FILHO – Guernica e Pietá
Particularmente esta imagem representa a de maior dor emocional, a mãe desesperada chorando a morte do filho desfalecido em seus braços. Embora esta obra seja cubista, por isso normal elementos geométricos, ainda assim é possível analisar uma boa semelhança da obra Pietá feita por Michelangelo. Ambas retratam a mãe com o filho morto em seus braços e ambas têm um formato triangular.
PESSOA EM CHAMAS – Guernica
O desespero que esta imagem traz é angustiante, a pessoa está sendo consumida pelas chamas dos fogos que os bombardeios causavam na cidade. Ela está com os braços levantados, como se estivesse clamando por socorro, seu rosto transmite a dor que ela está sentindo.
SOLDADO FERIDO – Guernica
O homem da parte inferior da tela está estirado no chão, ele não está morto porque sua expressão, como a boca aberta, indicam que está gritando de dor, mas provavelmente são os últimos instantes de vida que ele possui. A espada quebrada em sua mão mostra que ele é um guerrilheiro que estava lutando e foi ferido em batalha. Talvez ele estivesse lutando por seus ideais, lutando por um país melhor, contra um regime autoritário.
PERNA FERIDA – Guernica
O homem da parte inferior esquerda está andando puxando a perna, a maneira como ele está com a mão segurando a coxa evidencia que ele foi ferido pela guerra e ficou com marcas em seu corpo, que deixam sua mobilidade reduzida. Em meio a tanta dor e desespero retratados no quadro essa imagem mostra um homem andando como quem está seguindo a vida, seu rosto não é de dor, parece mais indiferença, dá a entender que esta é sua condição de agora em diante, sua vida dali pra frente será viver com a perna daquela maneira e ele aceitou, está seguindo seu caminho. Não é que ele não se importe que sua perna não será mais a mesma, ninguém gostaria de viver coxo, é que não tem o que fazer, talvez ele estivesse pensando que se comparado à dor daqueles que perderam um ente querido ou morreram de forma trágica e dolorosa uma perna manca não significa nada.
Isso mostra que todos foram atingidos de alguma forma, a guerra mudou pra sempre a vida daqueles pessoas.
TOURO E CAVALO – Guernica
O touro e o cavalo são animais que fazem parte da cultura espanhola, Picasso retratou ambos com faces de aflição, de dor. O cavalo dá a impressão que está correndo, como se tivesse tentando fugir da guerra, daquele sofrimento, porém ele se volta para trás, abre a boca e um chifre sai de sua língua, parece que ele está protestando contra todo aquele horror.
O touro, que para muitos é o símbolo espanhol, diferente do cavalo que podemos ver seu corpo inteiro ele foi retratado por Picasso apenas sua parte superior. A expressão de seu rosto é de dor.
Mais uma vez Picasso mostra que ninguém está impune à dor da guerra, seja ser humano, seja animal, todos foram afetados. Mostra também que de certa forma não é apenas Guernica quem sofre, ao retratar esses animais ele está falando de toda cultura espanhola, isso mostra que toda população está sujeita a essas atrocidades.
O chifre que sai da língua do cavalo pode ser entendido também como uma lança, se o cavalo ao tentar fugir da guerra se volta, abre a boca e uma lança sai de sua língua isso significa que talvez o artista estivesse dizendo que todos os espanhóis, representados pela figura cultural do cavalo, deveriam protestar e lutar contra aquela barbaridade, não poderiam se calar!
LUZ – Guernica
Uma mulher sai pela porta segurando uma vela, sua expressão é de espanto, no entanto ela está segurando algo que ilumina, que traz luz, uma esperança em meio a todo caos que estavam vivendo.
A luz que sai do centro da tela, da parte superior, tem o formato de um olho. É algo iluminado, que sai luz, e está na parte superior, denota o olho de Deus que estava contemplando todas aquelas atrocidades, nada daquilo ficaria oculto aos olhos de Deus.
Em várias partes da obra foi possível ver representações de jornal, mostrando que tudo aquilo que estava acontecendo deveria ser noticiado, pois eram assim que naquele momento as pessoas poderiam ter consciência de tudo que estava acontecendo.
Em síntese, o quadro todo retrata a dor e sofrimento que a guerra estava causando; retrata a dor em suas várias facetas: dor física, emocional, existencial, as pessoas perderam o propósito da vida.
Picasso ao pintar essa obra fez um importante protesto político. Naquela época o mundo não era globalizado como hoje, as notícias demoravam para chegar em outras partes do mundo, em alguns lugares nem chegavam.
Mas essa obra rodou o mundo, o quadro ficou mundialmente famoso e a guerra civil espanhola ficou conhecida por todos por causa da pintura de Picasso. Mais uma vez vemos a arte cumprindo um papel que vai além de fins estéticos; neste quadro vemos que ela cumpriu um valioso papel social, foi o instrumento que Picasso usou para expressar toda sua indignação, foi o instrumento que ele usou para protestar.
Ciência e Caridade X Guernica
Uma obra é muito diferente da outra, talvez para muitos “Ciência e Caridade” seja mais belo, superior à Guernica. No entanto a mensagem que Guernica transmite é de extrema relevância. Picasso utilizou a arte como forma de expressão, foi através da arte e não dos noticiários que o mundo pode saber da guerra que estava acontecendo na Espanha naquele momento. Veja a importância da arte!
Por isso que a arte não pode ser percebida apenas na busca pelo belo. É claro que a utilização de técnicas para tornar uma obra mais real possível merece todo mérito, no entanto a expressão de ideias, a transmissão de uma mensagem, são elementos que tornam a arte um poderoso veículo de expressão.
Picasso dizia que quando criança desenhava igual Raphael e depois de mais velho, e já consagrado como artista, desenhava como uma criança, e para ele eram estes últimos desenhos que permitiam que sua arte fosse mais genuína.
Gostaria de fazer a referência deste artigo em algum trabalho escolar ou acadêmico?
MENDES, Karla Larissa da Silva. Expressão Artística – “Pablo Picasso”. Karla Larissa. Disponível em: https://karlalarissa.com.br/2024/05/30/pablo-picasso/. Acesso em _____ de _________ de 20__.
Referências Bibliográficas
AIDAR, Laura. Quadro Guernica, de Pablo Picasso. Cultura Genial. Disponível em: https://www.culturagenial.com/quadro-guernica-de-pablo-picasso/. Acesso em 30/05/2024.
ALAMBERT, Francisco. Arte, Imagem, Guerra: Picasso, Guernica, Brasil. Domínios da Imagem. Universidade Estadual de Londrina, 2014. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/dominiosdaimagem/article/view/19297. Acesso em 30/05/2024.
