
CASAS DE PALAFITAS
O modelo habitacional que utiliza o método de Palafitas é muito comum em regiões onde há variação do nível da água por conta das marés ou regiões que vivem alagadas. Por isso as casas são elevadas através de estacas, geralmente de madeira, e a altura vai depender do nível da água da região onde se está construindo. Isso impede que nos períodos de alagamentos as águas invadam a casa ou as carregue para outro lugar.
As palafitas não são originárias do Brasil, a mais antiga que se conhece data de 5.000 a 1.800 a.C., foi encontrada no lago de Zurique, em Meilen, na Suíça. Ela é um modelo construtivo encontrado em diversas partes do mundo, sendo mais comum em áreas tropicais.
Na Europa o lugar mais famoso que possui palafitas é Veneza. Ela foi construída pelo Império Romano em de 476 d.C. Na época foram usados muitos troncos de madeira para perfurar a lama e o barro que tomavam conta daquele local. Acrescentaram à madeira pedra para garantir a sustentação à fundação. Isso tem cerca de 15 séculos e a cidade ainda está em pé, os troncos não apodreceram. Isso porque eles estão completamente submersos, sem contato com o ar e consequentemente oxigênio.

No sudeste asiático é muito comum encontrarmos esse tipo de edificação.

O continente Africano, embora em menor quantidades, também possui algumas casas de palafitas, principalmente na cidade de Ganvié.

Nas américas o Brasil também se destaca por conter esse tipo de habitação, presente em diversas regiões do sudeste, mas sua maior predominância é com certeza a região norte, sendo o Amazonas e o Pará os locais onde mais se encontram essas edificações.
Essas edificações são uma estratégia de sobrevivência, é a forma encontrada para habitar locais ribeirinhos com “segurança”. Essas casas costumam ter um design bem parecido uma com as outras, isso é, mesmo tipo de telhado, de material nas paredes e mesmo layout interior.
A moradia edificada obedece aos períodos do rio. Em geral essas áreas passam por 4 fases: a enchente (subida das águas), a cheia (nível máximo das águas), a vazante (descida das águas) e a seca (nível mais baixo das águas). A vida dessas pessoas se baseia nessas fases, assim como a habitação, que precisa estar segura nesses períodos.
No período da cheia essa população precisa se ocupar com atividades que não usam a terra, fazendo da criatividade sua estratégia de sobrevivência. Nesses períodos também a locomoção fica comprometida, por isso é comum haver passarelas ligando as casas e as ruas, outros utilizam barcos e canoas para se movimentarem. A cheia dificulta bastante o transitar dos moradores, mas os mais atingidos são com certeza os idosos e pessoas com mobilidade reduzida.
Nas áreas urbanas as doenças e lixos ficam mais acentuados na cheia. Como a maioria dessas casas estão em locais de difícil acesso, várias até mesmo dentro do rio, não há uma coleta de resíduos eficiente, assim como também não há muita consciência ambiental, por isso muito do lixo produzido é simplesmente jogado pela janela. No período da cheia esse lixo começa a subir e pode até mesmo entrar para dentro das casas, criando um problema de saúde pública.
Outro problema da cheia é que embora as casas sejam construídas elevadas do solo para que a água não chegue nela, ainda assim as vezes acontece de alguma maré ser mais alta e inundar o chão dessas casas, deixando o assoalho alagado, já que são construídas de madeira. Nesse caso as famílias precisam fazer caminhos mais elevados dentro da casa, como se fossem pontes, para conseguirem se movimentar sem molhar os pés constantemente.
Talvez fique a indagação do porquê essas famílias escolheram esse lugar tão desafiador para habitar, isso se tratando das famílias que moram nas palafitas por que querem, não por falta de opção. Mas para responder tal questionamento é preciso pensar no significado que esse local representa para essas famílias. Há uma ligação emocional com rio, é dele que vem o sustento e alimentação, ele proporciona um contato mais profundo com a natureza, é um lugar de refúgio, fuga dos problemas, poluição e trânsito caótico presentes nas grandes cidades.
Essas áreas que são inundáveis são propícias para o plantio, durante o período da seca.
Nos períodos da seca é necessária a verificação dos pilares que levantam a casa, fazer sua manutenção para evitar o rápido apodrecimento. Também é neste período que novas casas são feitas, as vezes é necessário aumentar a altura dos pilares para evitar que na próxima cheia a água entre novamente dentro da casa.
Além da região norte há muitos outros locais do Brasil que possui palafitas, inclusive a maior favela de palafitas do Brasil está localizada na baixada santista, em São Paulo. Estima-se que cerca de 22 mil pessoas estejam morando ali. É um lugar bem insalubre, sem nenhum saneamento básico, com grande parte do descarte dos resíduos produzidos pelas famílias, incluindo o esgoto, sendo jogados no rio.

Um pouco diferente das casas do norte, as casas dessas favelas em sua maioria não utilizam tábuas para fecharem suas paredes, utilizam materiais mais simples, isso inclui desde madeirite a simplesmente qualquer objeto que possa exercer a função de tampar, incluindo plásticos. As estacas que levantam essas habitações também são de madeira, que assim como a casa precisam de manutenção por causa da água, que ali nunca abaixa. Mas o problema é que nem todos moradores possuem condições de fazer essa manutenção o que coloca a vida deles em constante em perigo.
Segundo um levantamento feito pela Sabesp até o momento apenas 17% das casas possuem água encanada, as demais usam a água clandestinamente através de uma mangueira de muitos metros que é compartilhada, se sujeitando a todo tipo de contaminação. Em relação à energia elétrica também é feita de forma clandestina, o que torno propício a incêndios, que por se tratar de favela pode se alastrar rapidamente.

Em contraposição a todo esse caos da favela há um modelo de palafita que não é acessível a todos. Há uma tendência nos hotéis de luxo os quartos de palafitas, no Brasil ainda não é comum, mas pode vir a ser, já que as praias são fortes no turismo brasileiro. Vários hotéis da Malásia e Maldivas, por exemplo, criaram bangalôs de palafitas sobre o mar, tudo para proporcionar mais conforto e tornar a experiência da viagem mais agradável aos seus hóspedes.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
MENDES, Karla Larissa da Silva. “Casas de Palafitas”; Karla Larissa. Disponível em: https://karlalarissa.com.br/2022/10/14/casas-de-palafitas/. Acesso em __ de ______ de 20__.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Inson, N. B. Casas de Palafitas: Tudo sobre esse modelo de moradia. Viva Decora, 2022.
Como os romanos conseguiram construir Veneza sobre lama e água 15 séculos atrás. BBC News, 2020.
Barbosa, S. C. Prestes, A. S. Silva, S. H. Morar e sobreviver em casas de palafitas no município de Nhamundá/AM. O Social em Questão, 2019.
Carriço, J. M. Maziviero, M. C. Uma nova vida nas palafitas de Santos? Carta Capital, 2021.

